segunda-feira, 30 de julho de 2012

Conecte os pontos, mas forme uma opinião.

Conecte os pontos e forme a figura. 1, 2, 3, 4, 5, veja só, um coelho. Interessante, mas sabia que não era meu. Não existiam impressões minhas naquele coelho, e pior, ele era o mesmo que se esboçava nos cadernos de meus colegas. Alguns por verdade nem sequer conseguiam formar a figura. Eu permanecia ali, observando. Enquanto voltava do trabalho comecei a enxergar de forma diferente todas aquelas linhas pontilhadas no asfalto, 1, 2, 3, 4, 5. Subitamente tudo pareceu sequencial, idêntico. Me dá náuseas ao pensar, que alguém, algo, aquilo ou isso, se criou e se alastrou como um axioma subjetivo ao longo de nossa existência. Temos sido direcionados desde jovens a seguir as linhas pontilhadas, a repetir padrões, perpetuar o sistema. Não existem muitos questionamentos. O sistema se aperfeiçoou de tal forma, que, aquele que se nega a segui-lo, se torna, impreterivelmente, alienado. Ainda hoje me sinto como aquela criança que por vezes faz um ótimo trabalho com o pontilhado, mas que prefere desenho a mão livre. Prefere a imaginação, as criações, as engenhocas. Contudo, neste mundo de linhas pontilhadas, tenho eu que saber dançar sobre as mesmas e, quem sabe, desviar a rota algumas vezes e buscar sequências novas, inusitadas, mesmo nas áreas mais pontilhadas da vida. Quando era novo desenhava um coelho conectando os pontos, com o passar do tempo, desenhava a mão livre, hoje, desenho o coelho ligando as linhas tracejadas, mas, ao fundo, desenho todo um novo universo. Querendo ou não estamos ligados ao sistema, neste jogo. E não fazemos as regras. Existem aqueles, que jogam cegamente, dia após dia, o jogo que lhes foi designado. Alguns, se deixam levar e acabam por jogar o jogo dos outros. Há aquele que cria um próprio jogo, julgando ser o senhor de seu destino, o que cria as próprias regras e joga sozinho, na ignorante esperança que o sistema o deixará em paz. E outros, quem sabe, desenham o coelho sobre a linha tracejada para enganar o linear e construem atrás dele, uma outra visão, algo novo. Tudo tem seu preço. Você não ganha do sistema, você barganha com ele.