quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Como?

Como parir um poema?
Se sou filho de Adão
Se meu pai é ferreiro
Se não sei escrever.

Como dar voz as palavras?
Se elas são tímidas
Se eu tenho ciúmes
Se não consigo entendê-las.

Como fazer o que gosto?
Se não faço por onde
Se não tenho mentor
Se não sei do que gosto.

Como explicar o que sou?
Se não sei como chamo
Se não sei onde moras
Se tenho vergonha de tudo.

Como digerir este como?
Que me seguiu até aqui
Mesmo tendo escondido as pegadas
E que agora me digeriu.

O tempo

O tempo é uma das melhores sacadas de Deus. Ele é curvo, é relativo, é invisível mas ainda sim é perceptível. O vento também é uma grande sacada mas de uma maneira mais simplória, uma tentativa que não deu muito certo. Nascemos carecas, bangelas, pelados, urinamos e defecamos em nossos amados e em nós mesmos, terrível e fascinante; a beleza é por conta do fato de nascermos em miniatura. Deus já sabia que o diminutivo das coisas é agradável aos olhos, os japoneses apenas o copiaram.

Crescemos enfim, e o nosso estilo desajeitado, desproporcional, sincero de ser cativa a todos. Riem de nossas desgraças quando caímos no chão, caímos da bicicleta, perdemos um dente, riscamos o sofá. Contudo, ao longo dos anos, com a fala desenvolvida, a estrutura de um hominídeo já não somos mais interessantes, ouso dizer que somos o meio, o sem graça, um estranho inconveniente que agora pensa, lê, e critica. Criticamos por pura inocência, de julgar que descobrimos a verdade e a luz quando enxergamos os defeitos, em TUDO. Estado que não dura muito tempo, apenas o suficiente até nos acostumarmos que TUDO tem defeito e que TUDO é parcialmente certo e errado; até percebermos que inclusive NÓS estamos também errados e repletos de mazelas.

Começamos por fim a adquirir experiência, sabedoria, a descobrir novos mundos e realidades, "certas" e "erradas", sobretudo as erradas. É o momento onde finalmente nos reconhecem como adultos, um lindo sonho de uma noite de verão, um devaneio, pois com a suposta liberdade se encontra um dos homéricos engodos da humanidade: A responsabilidade. Um inferno de palavra que persegue, pune, sem misericórdia cada gota de alegria guardada com carinho.

Nos sentimos então, velhos, cansados, medíocres, fora de época. É um súbito despertar de uma matrix sem retorno. Agora estamos no encalço da lei, do julgo moral, dos empregos, dos impostos, dos anéis, de prata, de ouro, da pesada mão invisível do mundo. A música finda, e uma voz retumbante nos diz: É isso filho, agora reproduza e morra.

Só assim percebemos que o tempo nos foi tomado tão taciturnamente que nem nos demos conta, deixando de alento apenas o tempo de outrem, da prole. Aonde cometeremos o mesmo crime novamente, o mesmo sadismo, a mesma punição, e tentaremos de forma egoísta viver através deles o que não deu tempo.

O corpo se esvaindo em doenças e putrefação, morte lenta e dolorosa a caminho de um funeral muito triste, porém muito breve para não cansar os convidados, e a memória de uma vida que se foi que permanece na mente de dois ou três e em alguns punhados de fotos escondidos em um backup de um computador antigo. O tempo é uma grande sacanagem e aproveitá-lo é tão bom que os que não o fizeram julgaram ser um CRIME que alguém o faça. Ao fim da vida, teremos tempo de sobra, mas também não acho que essa seja uma boa idéia.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Quarentena

Quarenta é o número natural depois do 39 e antes do 41. Os seus divisores são 1, 2, 4, 5, 8, 10, 20 e 40.

É o sétimo número abundante.

Pode ser escrito de três formas distintas como a soma de dois números primos: 40=3+37=11+29=17+23\,.

Quarentena é a reclusão de indivíduos ou animais sadios pelo período máximo de incubação da doença, contado a partir da data do último contato com um caso clínico ou portador, ou da data em que esse indivíduo sadio abandonou o local em que se encontrava a fonte de infecção. Na prática, a quarentena é aplicada no caso das doenças quarentenárias, como cólera, tifo exantemático e a febre amarela para observação do paciente.

Difere do isolamento, por este segregar um doente do convívio das outras pessoas durante o período de transmissibilidade, a fim de evitar que outros indivíduos sejam infectados.

Este é o quadragésimo texto. Não sei bem o motivo, mas soa como um aniversário. Meia-idade sem crises, mas com certeza com muitas reflexões, reparos. Espero que ao longo destes textos tenha evoluído como pessoa e como "escritor" e que porventura tenha vez ou outra entretido, aconselhado ou até mesmo emocionado algum de vocês. Agradeço a cada um que me honrou com seu precioso tempo durante estes meses e que me proporcionou o imenso prazer de poder fazer algo que eu gosto, que me completa, que me preenche. Conto desde já com a presença dos senhores e senhoras nestas próximas letras, versos e textos que escreveremos juntos. Muitíssimo obrigado.

Otten Ziul

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Perfunctoriamente

Desvencilhei-me do talambor de meus sentimentos subversivos em relação a esta piara espalhafatosa e rumei a minha paranzela como um inexorável ultor. O vento seral deletava de minha mente os paguilhas arrogantes que me corroíam remuito enquanto desfrutava de uma deliciosa siricaia que eu mesmo havia feito. Com o passar dos anos e a chegada de minha resiliência adquirida demiti o meu eu venéfico e contratei o meu eu vítrice por tempo indeterminado.

Royal Straight Flush

00,0001539% ou
1 chance em 650.000

Eu estava lá.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Are you ready?

A primavera chegou companheiros. É hora de trocar as penas, afinar o canto, abrir as asas e porventura disputar territórios. Há quem tenha sido agraciado pelas peripécias do destino, ou se preferirem, acertados pelo acaso e já estão reformando seus ninhos. Para os outros, aconselho que não percam muito tempo, com a internet e a globalização a disputa hoje em dia é muito mais rápida, não hesitem em fechar o acordo. São tempos em que saber se vender é de extrema importância, para isso recomendo que cada um se conheça e saiba seus pontos fortes antes de levantar vôo. Nada de cantadas ultrapassadas, piadas de mal gosto e falta de educação. É hora de charme, timing, discrição e principalmente ATITUDE. Boa sorte companheiros e tenham uma ótima viagem.

O bem e o mal.

O bem e o mal trabalham sobre a linha de um padrão antigo. Filósofos do século passado mencionam que eles dividem um escritório e que é impossível marcar uma reunião. Na escolha de representantes, grupos, corjas responsáveis pela tomada de decisões há de ser preservada ou a defesa de interesses divergentes ou um número ímpar de representantes. A convenção de Genebra estabelece que o bem e o mal por se odiarem, trabalhariam muito bem um contra o outro e a favor da humanidade (Isso é informação privilegiada, não deve sair daqui). Contudo eu particulamente fico receoso da idéia, e não estou sozinho. Pessoas de todas as partes do mundo tem me procurado (e volto a repetir que este não é meu departamento), a despeito dá má gestão observada nos últimos anos. Estes burocratas do destino, em resposta a minhas últimas reinvidicações decediram retaliar com a morte de Michael Jackson e temo que agora tenham se voltado particularmente contra mim. Fato é que estou disposto a assumir este papel de mártir mas conto com o apoio dos que já fazem parte da revolução e do ingresso de novos participantes. Para deixá-los a par da situação atual um processo minuncioso está tramitando a despeito do acidente entre Massa e Barrichello, uma pouca vergonha. E ainda não recebemos respostas do pedido de revogação do estado de vida do ex-presidente George W. Bush, mas prometo que os manterei informados. Até breve.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Dia dos pais.

Esse dia dos pais foi um disparate. Um peça de teatro tão complicada que até agora não entendi. As cortinas fecharam e eu ri, bati palma, mas depois, chorei, fiz uma oração. Meu pai foi o protagonista, quase a noiva, tão esperada. Minha cabeça rodava em duas estações ao mesmo tempo, de um lado a primavera, apaixonada, loira, perfumada, e no oposto o inverno, a saudade de alguém que se foi, um ótimo pai e amigo e o medo quase insuportável da falta de timing que a vida tem para levar quem a gente ama. Só gostaria que meu pai soubesse que acima da admiração e do respeito que tenho por ele só está meu amor incondicional e a minha eterna dívida e gratidão. Me desculpe pai por qualquer coisa e muito obrigado por tudo. Te amo.


Esse texto, por mais humilde que seja, também dedico a memória de um grande amigo, que durante todos esses anos sempre esteve ao lado de meu pai e de nossa família. Você vai deixar muitas saudades. "Déi", esteja bem e olhe por nós. Amém.