terça-feira, 10 de agosto de 2010

Guerra de tiranos nas Ilhas Maurício

Haviam três grandes gordos tiranos, todos se vestiam de maneira completamente desapropriada e espalhafatosa. Três grandes imensos desejos os rondavam. Dominar um continente, conhecer a si mesmo e conquistar o coração de uma mulher. Por anos de guerra alcançaram, todos, o primeiro objetivo. Para o segundo desejo foram necessários um discurso público e um livro (Manifesto de mim mesmo) para que fossem definidos os finalistas. Por fim, a derradeira e complicada missão, o coração da mais bela jovem do reino. Um dos gordos tiranos ordenou que a bela o amasse, a atitude não surtiu efeito algum. O outro apressou-se em retirar com as próprias mãos o órgão vital do peito da jovem moça, demonstrando assim toda sua tirania. No que ela falece surge um velho sábio que os desafia: Qual de vocês é o maior tirano? O primeiro afirma que um bom tirano não trata dos assuntos pessoalmente, sempre ordena que o serviço seja cautelosamente executado,e por isto, seria ele o maior tirano. Já o segundo clama pela vitória ao mostrar que possui em suas mãos a prova viva do próprio amor. O sábio conclui que ambos são em verdade perdedores, que o primeiro ordenou amor e recebeu indiferença e que o segundo na busca do amor encontrou a solidão. O amor é um poço que se cava com a verdade, com carinho e respeito,e estas, são especiarias despendiosas do caráter que, tirano algum, jamais possuirá.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Auto-retrato

Nunca fui de tirar fotos. Se pudesse pintaria retratos, pintaria toda minha vida. Faria um retrato meu de quando era criança apenas com um estojo de giz de cera, um saco de risadas e um pouco de graxa de bicicleta, quando terminasse colocaria a obra em holograma, igual o Jumanji. Em minha adolescência retrataria todos os bons e ruins aprendizados da vida, mas isso tudo no fundo, na frente seria eu, minha namorada, um aparelho e uma espinha enorme no meu nariz. O retrato do hoje seria multifacetado, de um lado jaleco, estetoscópio e um livro, e do outro, uma mulher, uma cama, uma moto, uma ferrari e um bilhão de dólares guardados em malas espalhadas pelo chão da sala. E daí? Qual o problema? O quadro é meu e eu pinto ele do jeito que eu quiser.

O frio



Era chegada a hora. Lá estava eu, vacilando nos passos descalços em direção ao lago Inari. Meus guias eram os espíritos do antigo povo Sami, indígenas do norte da Lapônia. Meus olhos estavam perplexos com a Aurora Boreal, seguindo-a, digerindo cada fração de cor de seu caleidoscópio. Dentro de mim tocavam velhos hinos italianos, que cantavam sobre a vida e a toscana que jamais possuí. Os motivos de meu ato ainda não estão esclarecidos por contento, como o poeta, culpei o sangue que me sobia a cabeça. Meu próprio espanto, era meu maior álibi. A água era congelante, um dos poucos lagos demasiadamente grandes para se tornar pista de esquiar. Meus joelhos tremeram e até se tocaram enquanto eu avançava, mesmo assim segui em frente. Os dentes rangiam de frio e de desespero. Ironicamente, no quadro mais belo de toda minha existência se desenrolava quem sabe, o mais trágico desfecho. A impressão é que minha pele estava em chamas, meu coração bombeava mais lentamente, porém, de forma mais intensa. Presumi que meu sangue havia mudado de cor, para um tom mais sóbrio, menos extravagante. Mal sentia o peso do corpo que carregava no colo, descobri que a culpa pesa toneladas. A água no peito dá a sensação de que simplesmente pararemos, soa como o último gongo do relógio. A idéia era deixá-la ir, abandoná-la na porção mais bela da terra. Todavia sentindo-a, mesmo que gelada e cheia de ossos, inanimada como uma boneca de porcelana, a amei. E compreendi subitamente, como em uma obra shakespeareana, o trágico desfecho do amor. Fitei a Aurora Boreal pela última vez, e descansei, sentindo o amor finalmente, em meu coração e tomando o último gole amargo que tomaria nesta vida.