quarta-feira, 13 de maio de 2009

39º

O dia é um pequeno resumo da idéia da vida. Acordamos, somos expostos a uma sorte de escolhas, de diversas complexidades ao longo de seu percurso, e mais cedo ou mais tarde nos colocamos a dormir. O ser humano teoricamente, nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre. Não acho uma boa definição de vida e muito menos plausível quando remontada aos nossos dias. Muitas pessoas não crescem todos os dias. Fisicamente à partir dos 20 anos já iniciamos nosso processo de morte fisiológica, e devido ao trabalho realizado iniciamos uma diminuição na estatura, que é normal, principalmente pela descompensação da coluna vertebral ao longo dos anos. Em um sentido figurado, muitas pessoas se apequenam todos os dias, frente aos desafios da vida. Quanto ao reproduz, que maravilha seria, é uma utopia da qual compartilho com o autor da frase, mas infelizmente ainda não é uma realidade para todos. Envelhecer... É relativo, meu pai ficou anos mais jovem no dia em que descobriu que seria lançado no cinema Star Trek com o destemido Capitão Kirk. E como ele, redescobrimos prazeres antigos, valores importantes de quando éramos mais jovens. E nos rejuvenescemos por um dia. Por um momento. O tempo é relativo, isso é comprovado cientificamente, matematicamente. Eu acho isso impressionante, sou só eu? Então me restou nascer e morrer todos os dias. E especificamente no dia de hoje, vivo um resumo de uma vida nada fácil. Nasci enfermo, com fraqueza muscular, febre de 39º, dores de cabeça em salvas, do tipo pontada, holocraniana associada à coriza nasal, provável faringite e perda de apetite. Não sei se conseguiria passar uma vida desta forma, e esta é a realidade de alguns, suas rotinas, por anos! E um sonho para alguns com situações muitas vezes piores. Isso me faz refletir sobre a importância das dádivas que recebemos todos os dias. No discurso de meu avô neste último dia das mães, ele nos contou uma experiência que teve com um de seus pacientes. Tetraplégico após um acidente de moto, longo conhecido do hospital aonde foi acompanhado por anos, um dia foi encontrado chorando copiosamente porque havia retirado uma mosca de sua boca, algo que ele referiu como a situação mais humilhante, inoportuna de sua condição. Não tinha o interesse de ser sensacionalista em nenhum momento, mas esse é um fato e não um conto. Temos vergonha de nos confrontarmos com uma realidade pior que a nossa, é constrangedor. Porque é claro, não somos suficientemente gratos pelo que possuímos. E nunca o seremos. Neste momento meu único desejo é poder, neste dia, “morrer” em paz, mas já não me incomodo tanto com meus sintomas, me sinto corajoso em poder carregá-los e de certa forma até zombo deles. E não é gripe suína! Poderia ser...

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