sábado, 30 de maio de 2009

Raspas e restos me interessam

Eu mantive essa frase em minha mente desde ontem quando ouvi "Maior Abandonado" (Cazuza/Frejat). Não era a primeira vez que ouvia esta música, mas com certeza foi inédita a forma como essa frase em específico reverberou dentro de mim ontem. Raspas e restos me interessam. Ouvi uma música e escutei uma idéia. Na música esta afirmação sucede dois pedidos. "Migalhas do teu pão" e "Teu corpo com amor ou não"... Raspas e restos tecnicamente são a mesma coisa, um remanescente, sobras, mas diferem em seu sentido conotativo, poético. A palavra raspas não nos é tão agressiva quanto restos. A raspa do bolo, raspei a panela. Nos lembra uma sobra de algo que era bom. Já restos, é uma palavra ácida, ofensiva. Não vivo de restos, foi o que restou, é só o que me resta. É a ausência de escolha, é o que já não serve mais, não presta. É a última alternativa. E o poeta queria tanto um quanto outro, migalhas do teu pão. Migalhas que são restos, mas que se tornam raspas porque o pão era de alguém especial. E o teu corpo com amor ou não, o corpo são raspas, mas sem amor, seriam restos. É uma expressão muito abrangente, e soa bem, por isso é música, é poesia. Quantas vezes nos esforçamos por consumir algo até as raspas, quantas vezes nos ludibriamos, e nos esbaldamos em restos, sem perceber. Quantas vezes procuramos um ao invés do outro. E achamos restos em raspas, e raspas no que nos resta. São duas palavras tão parecidas, que nos confundem, assim como na vida.

Um comentário:

  1. Chorei, lembrei de viver só com resto das raspas. adiciona: ionaraingrid@hotmail.com

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